sábado, 29 de dezembro de 2007

A idade de ouro



"Nascida na ilha do fogo... Fabulosa. Das cores do sol nascente. Mitológica. Condenada a solidão eterna. Constituída de fogo. Morrerei em chamas todas as tardes. Emergirei a cada nova manhã. Quando morrer, rodeada de perfumes, entrarei em autocombustão: vontade irresistível de sobreviver. Renascerei de minhas próprias cinzas. O tempo reconstrói força e poder após ressurgir flamejante imortal em espírito. Bela e triste, provocarei a morte de admiradores. Solitária viverei, a cada era, esperança, continuidade da vida e meu triunfo sobre a morte..... "



Ouço o barulho da chuva. Acho que é o presente da Deusa para mim, no dia do meu aniversário. Ela bem sabe que os dias chuvosos são os meus favoritos. Dia propício para limpar a alma, fazer um balanço do ciclo que hoje se encerra.
Diz uma lenda que o consolo de todo capricorniano que nasce entre o dia 25 e o dia 31 é achar alguém que faz aniversário DEPOIS dele. Assim a gente pode rir de alguém que tem ainda mais azar. Presente de aniversário é dado no Natal e a festa de aniversário é dada no Ano novo. Ou seja, nunca há motivos pra comemorar. Isso quando alguém lembra do seu aniversário.

Acho que esse ano que passou só serviu pra me deixar um ano mais velho. A maior parte do tempo foi sofrível, eu sobrevivia aos dias, não os vivenciava. No início do ano reencontrei um amor que julgava perdido, e no fim desse mesmo ano aprendi que é possível amar sem desejar. Aprendi que eu podia, e deveria, tentar ser feliz com outras pessoas, já que esse meu amor não é realizável, não da forma que eu concebia. Agora sou livre para amar e ser amado da forma que desejo, sem esquecer desse amor que é antes de tudo, meu amigo.

Outro momento importante foi o início do mês de dezembro. Conheci alguém que, sem sombras de dúvida, deixou uma marca indelével em mim. Alguém por quem eu poderia facilmente me apaixonar e só não o faço por ele ser tão reservado. Conhecemo-nos pouco, mas sempre fica o desejo de conhecer mais, de ter mais a companhia do outro. Desejo de ficar ouvindo sua voz por um tempo indefinido, mesmo que falando coisas sem sentido. Seria esse o início de um grande amor? Veremos...

Profissionalmente o ano foi promissor, apesar de perto do fim eu ter estragado quase tudo. No serviço sou respeitado pelo conhecimento que detenho e pela competência demonstrada. Atualmente exerço um papel de confiança, sendo o segundo na hierarquia, algo que eu não esperava que fosse acontecer. Após algumas guerras internas meu ânimo arrefeceu e eu desejei partir. Eu posso mudar o mundo, só não posso mudar as pessoas, quando esse não é o seu desejo. Ter seu potencial, sua energia tolhida por alguém acostumado aos seus privilégios pode ser mais pernicioso do que uma guerra franca e direta.

Intelectualmente esse não foi um ano de grandes mudanças... Como disse a um amigo, acho que eu não aprendo nada essencialmente novo, eu modifico e melhoro o que já sei, tornando-me mais sofisticado, lapidando quem sou, o que sou...

Eu agradeço a alguns amigos, sempre presentes, que aturaram minhas constantes mudanças de humor. Sim, eu sei que foi bem complicado aturar minhas crises de emisse, minha frieza (a lu dá pulinhos com essa), e permanecer imperturbável. Amigos improváveis, pela diferença de idade, de personalidade, mas os melhores amigos que alguém poderia desejar. Nessa época eu reflito sobre a entrada deles na minha vida e não canso de me surpreender. Eu não consigo imaginar minha vida sem a Fernanda, a Geise, o Daniel, a Renata, a Lu, A billie, entre alguns outros... Pessoas que já me fizeram sorrir, já me fizeram chorar mas que, sobretudo, me fazem agradecer a honra de tê-los como amigos.

Pra quem teve sua vida mudada por um desenho animado, não é difícil acreditar que a segunda grande mudança se deu em um fórum sobre Harry Potter. Eu posso não acreditar em um destino imutável, mas em momentos como esse eu posso, sinceramente, acreditar em desígnios divinos. Contra todas as possibilidades, fiz amigos que desejo manter por toda uma vida, mesmo que não ofereça muito em troca.

Well. Ano terrível, acreditem em mim. Ainda assim não desejaria que ele não tivesse passado. É vivenciando momentos ruins que damos valor aos bons. Esse ano que passou uma das minhas personalidades teve bastante trabalho. E essa é mais uma das minhas piadas particulares. Oficialmente sou dividido em três reinos e três grandes senhores. Gwydyon foi o primeiro a aparecer e é o rei que por mais tempo rege meu corpo e minha mente. È o alter-ego dominante, é ele que gosta de se divertir, de argumentar. É ele quem trem uma curiosidade extrema e uma vontade de aprender aparentemente inesgotável. Lestat de Lioncourt é o mais novo dos regentes e é ele o responsável pela minha faceta mais cult, o que aprende línguas estrangeiras com facilidade, gosta de filosofia, de ópera, de música erudita. Que é apaixonado pela França e é refinado. O irmão do meio, e talvez o mais poderoso dos reis, é Thanatos. Tal qual o senhor da morte, ele é o responsável pelas minhas mortes e renascimentos. Face que está sempre se renovando, deixando que o velho morra para que o novo possa florescer. Foi justamente ele que teve mais trabalho em 2007, reciclar tanto tempo de ócio, tanto tempo de desleixamento. Foi ele o responsável pela morte do antigo senhor deste corpo e pelo nascimento de um que, finalmente, está pronto para enfrentar o mundo dos adultos, pronto a arriscar tudo por um sonho... pronto a dar a cara tapa e a fazer-se realizar uma antiga profecia... “Ser movido pela paixão”. Viver intensamente cada momento, numa entrega sem limites, arriscando as piores quedas mas também os maiores prêmios.

Feliz aniversário pra nós quatro. E feliz ano novo a todos nós ^^

"Nascida na ilha do fogo... Fabulosa. Das cores do sol nascente. Mitológica. Condenada a solidão eterna. Constituída de fogo. Morrerei em chamas todas as tardes. Emergirei a cada nova manhã. Quando morrer, rodeada de perfumes, entrarei em autocombustão: vontade irresistível de sobreviver. Renascerei de minhas próprias cinzas. O tempo reconstrói força e poder após ressurgir flamejante imortal em espírito. Bela e triste, provocarei a morte de admiradores. Solitária viverei, a cada era, esperança, continuidade da vida e meu triunfo sobre a morte..... "

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Da solidariedade à ausência do poder público


Uma homenagem aos posts com títulos pomposos e sem conteúdo algum*


Somos pessoas naturalmente egoístas. Nossas relações interpessoais são baseadas no escambo, seguindo um preceito bíblico: “é dando que se recebe”. Sobre isso falo em outra hora, comecei citando isso como desculpa pra escrever um post cretino, já que não consigo pensar em nada melhor.
Certa tarde, indo ao centro de Porto Alegre, entra uma mulher no trem. Não uma mulher qualquer, uma velha conhecida de viagens entediantes. Ela chega e conta a mesma história triste. Ela tem um filho que tem intolerância a lactose, e para que ela possa amamenta-lo é necessário um leite especial, que custa BEM caro. Até aí nada de anormal. As pessoas que utilizam o metrô com freqüência já devem ter ouvido essa história algumas vezes.... a novidade é que ela acrescentou que o governo estadual e federal não fornecem esse leite, e que é necessário entrar com uma ação na justiça. Normalmente um ou dois passageiros compravam os fatídicos adesivos que ela vende nessas viagens. O que me espantou é que não foram dois, mas várias pessoas que resolveram comprar. É espantoso como algum treino na arte da retórica possa fazer tanta diferença no lucro que ela teve. Até mesmo eu, que nem coração tenho, fiquei sensibilizado.

Não é de hoje que a assistência de nosso governo é quase nulo quando se trata de medicamentos caros e/ou especiais. Não são raros os casos em que alguma família entra com uma ação na justiça para ter o direito de receber esses medicamentos sem custo. Para se ter uma idéia, o leite que ela precisa, em um mês, ultrapassa os R$700,00. Quem, de meus amados leitores, puder pagar essa quantia deixe seu telefone que eu passo para a senhora necessitada. Essa lacuna me leva mais longe. Leva-me, de alguma forma, ao poder do tráfico que nos aterroriza. Não vou defender o tráfico ou os traficantes, mas na favela, longe dos cuidados do governo, e com a indiferença da nossa sociedade, abre-se espaço pra um poder paralelo. Mesmo que a assistência dada pelos traficantes tenha como preço a conivência com atividades criminosas, essa é a única ajuda que pessoas como a moça que abriu meu post tem.

Então eu pergunto quem é vítima e quem é criminoso nessa história? O consenso é de que as pessoas que moram na favela são tão criminosas quanto aos próprios traficantes (a não ser quando alguém quer aparentar sapiência e diz que na favela moram pessoas “decentes”). Essas pessoas foram condenadas a serem relegadas a segundo plano por uma sociedade hipócrita e ciosa de seus privilégios. Foram relegados a sobreviverem sozinhos, sem qualquer tipo de assistência, e quando a encontram, mesmo que a um preço alto, as condenamos e as chamamos de “vagabundas” ao não trabalharem, mesmo que as oportunidades de emprego nunca as tenham sido dadas. Quem é o culpado por situações com a da moça do leite sem lactose?

Ah sim, quase esqueço de dizer, eu não comprei os adesivos. Ela pode ser boa em retórica, mas ta longe de conseguir me convencer.

*porque nem mesmo eu escapo de alguns comentários ácidos.