sábado, 24 de novembro de 2007

O preço de ser diferente



Lembro de um post, no blog de um amigo, em que ele fala a respeito de ser diferente. Dizem os especialistas que somos todos diferentes. A sociedade ensina “viva a diferença” mas não há lição mais hipócrita. Odiamos pessoas diferentes, evitamo-as como se leprosas fossem.
Ao sentenciar “ela é diferente” olhares desconfiados são lançados, ao ostracismo são condenados. Não faço juízo de valor nesse caso, não nesse momento... somos assim. Procuramos por aqueles que são iguais a nós, como que para reafirmar nossas crenças e valores. Encontramos no outro a confirmação de nossas certezas. Não só a confirmação mas aceitação e compreensão também. Não falo aqui de diferenças simplistas como gostar de tomate verde ou maduro, mas de diferenças que influenciam diretamente no que somos. Posso citar entre elas gostarem de ler, pena de morte, tolerância religiosa, sexual, racial e até mesmo da forma como elas encaram a vida.

Até mesmo naqueles que são discriminados por serem diferentes podemos encontrar a sombra destes ensinamentos. Frase como “mundo gay” não soa familiares? No desejo de terem os mesmos direitos das pessoas “normais”, principalmente o direito de ser visto como “normal”, acaba-se reforçando a idéia de pertencer a um mundo separado do resto das pessoas. Sim, eu sei que os gays são marginalizados, condenados a viver em guetos entre tantas outras coisas. Não é isso que eu questiono aqui, mas a postura de alguns (ou vários) deles... Excetuando-se algumas particularidades, eu não vejo uma diferença que justifique a expressão “mundo gay” a não ser por desconhecimento de outro ambiente, nesse caso, o “mundo hétero”.
Acaba-se tornando complicado falar sobre isso, porquê todo argumento pode não resistir a contra-argumentação do “mas eu convivo com pessoas diferentes de mim, portanto eu sou tolerante”. Sim, eu acredito que isso exista, eu sou uma dessas pessoas, mas eu reconheço que o diferente no meu caso, e no de qualquer outra pessoa, acaba tendo limites. Não convivo e nem sou amigo de meu nêmesis. Na melhor das hipóteses nos respeitamos. Há diferenças (como a forma de ver a vida) que acaba fazendo a amizade ser virtualmente impossível.

É por esse motivo que não acho errado essa forma de agir. Procuramos sim pessoas iguais a nós e muitas vezes evitamos ambientes ou pessoas diferentes. Na ânsia de reforçar o que cremos, de reforçar a igualdade acabamos por formar uma sociedade pluralista, mais do que se aceitássemos todos as diferenças de braços abertos. Evidentemente há os que chegam ao extremo desse comportamento, acabando por não aceitar o que é diferente, achando que sua “verdade” é a única existente. E é nesse ponto que pecam. Algo que, essencialmente é natural, acaba se tornando pernicioso. Essas pessoas acreditam ter o dever de convencer todas a sua volta a um único ponto de vista, a uma única forma de ver o mundo, como se apenas ela representasse o mundo “real” e o resto fosse apenas quimeras de nossos desejos. Quando não o fazem através da argumentação, o fazem através da violência. Judeus X Palestinos, Gays x Igreja católica (héteros), católicos X protestantes. A lista é infinita... e todas elas recaem, em algum momento, no mesmo ponto. A incapacidade de ser tolerante com a verdade alheia.
Costumo dizer que ninguém tem a obrigação de entender o que é diferente, mas tem o dever de, ao menos, respeitar.

Alguns podem vir a interpretar mal esse post, acusando-me de ser sutilmente preconceituoso... e esses não estarão mais longe da verdade. Eu gosto de ver pessoas diferentes de mim, e gosto ainda mais quando elas reafirmam suas crenças num aparente gesto de desafio. É justamente por sermos diferentes que a vida se torna interessante, que a cultura enriquece, que horizontes são ampliados. Por isso eu aconselho: procure aqueles iguais a você, mas não esqueça de ser tolerante com aqueles que são diferentes. Meus pais deveriam ter aprendido essa lição um pouco mais cedo. Eles nunca tentaram, ou nunca conseguiram, entender que eu era (e sou) diferente das pessoas que eles conviviam, diferente dos outros filhos que eles tinham. Eu sou gay, leitor, escritor, sigo a wicca como religião (mesmo não sendo lá muito ativo). Meus pais não estavam preparados para encontrar alguém tão diferente das crenças pessoais deles. Durante muito tempo tive apenas intolerância e violência como forma resposta ao que sou. Talvez por isso tenha aprendido a ser tolerante com as pessoas que são diferentes de mim, mas ainda assim desejar que elas não abram mão do que acreditam por medo de alguém que as ameace, ou para ser aceita em algum grupo. Que vivam sozinhas, mas vivam com a consciência tranqüila. Hoje não finalizarei esse post com alguma pergunta. Adieu.

8 Comments:

São said...

Gostei da reflexão.
E preconceitos, meu caro jovem, há em todos os "mundos".
Venho solicitar-lhe , não esqueça de colocar em seu blog amanhã :
"ABAIXO A VIOLÊNCIA DE GÉNERO: HUMANIDADE NÃO TEM SEXO!!"
Bom fim de semana.

Guilherme Demetrio said...

Eu estudava o preconceito, nessa semana que passou. Vai cari no meu vestibular, em sociologia. E segundo Norberto Bobbio, o preconceito passa por três fases distintas em sua formação:

1. Há a percepção da diferença entre dois grupos.

2. Um grupo começa a se considerar melhor que o outro.

3. O grupo que se acha melhor se afirma no direito de subjugar a que ele julga pior.

Eu não creio que o preconceito abra novos caminhos, em nenhum sentido. A pluralidade, ao menos ao meu ver, é esmagada sombriamente. O preconceito move as pessoas a justamente "pré conceituarem" e rotularem o outro. E se isso ocorre, como ser plural? Para o preconceituoso, o único plural que vale à pena, é o plural que se encontra dentro do seu singular. E não adianda dizer que existem casos e casos. Preconceito é sempre preconceito, se é fraco hoje, talvez seja forte amanhã. E mesmo sendo fraco, haverá sempre algo intolerável.
De toda forma, acredito que realmente a tendência de nos agruparmos cause uma sociedade multifacetada. Mas se agrupar é diferente de recusar. As abelhas se agrupam em colméias, os peixes em cardumes, os antílopes em bandos, isso gera um ecossistema multifacetado, mas nenhum grupo nega ou rejeita o outro. Todos são o que são em sua essência, colaborando para um ambiente mais completo. Pois assim deveria ser.

Gwyddyon said...

GUI.

Esse Norberto é mesmo um exagerado. Eu percebo a diferença entre vários grupos (incluindo ao qual eu sou incluído) entretanto não acho este melhor que aquele. Diferente sim, mas não melhor.

E preconceito abre sim novos caminhos se vc souber como enfrentá-lo. Vejamos, por exemplo, meu caso com a MPB. Eu ODIAVA MPB, achava um lixo, desprezível. Uma amiga começou a mandar umas MP3 a meu pedido. No fim acabei virando fã de MPB. Eu sabia que tinha preconceito e decidi ver se esse preconceito tinha algum fundamento... no fim não encontrei motivo plausível pra odiar MPB, mesmo que tenha váááárias coisas ruins.

Vc cita colméias, cardumes... vc esquece de um porém... todas essas "sociedades" tem papéis rígidos. Uma abelha operária morrerá como operária. Se usarmos essa classificação social para a humanidade, não seria isso um preconceito? uma pessoa que nasce numa classe nunca poderá chegar a outra, morrendo exatamente como nasceu.

Não é isso que fazemos, mesmo que inconscientemente, com quem mora na favela?

Guilherme Demetrio said...

Então ficamos à mercê do conceito que temos para preconceito.
Como eu não sei em quem ou exatamente no quê vocÊ baseou-se para escrever seu texro, não posso afirmar que está certo ou errado, e mesmo conhecendo, não poderia. Posso, apenas, dizer se concordo ou discordo. No meu caso, continuo discordando.

Por quê?
Por que como você disse, sim, temos sociedades rígidas, mas foi uma metáfora xD, você entendeu. Na nossa sociedade, o fato de fazermos o mesmo com o favelado, segue normalmente os passos de Bobbio, não vejo porque não.
E o próprio fato de não encontrar motivo plausível para odiar MPB já não significa que o preconceito reheita a pluralidade sem qualquer consideração?
Não gosto porque não gosto. Sem ouvir ou tentar ouvir. Depois que você conhecer, gostou.

Me compreende?

Renata said...

"Hoje não finalizarei esse post com alguma pergunta."

Até porque ela já foi feita por nos mesmos no desenrolar dele, não?

São said...

Se quiser passar por lá, agradeço.
Abraços.

Unknown said...

.

Certa vez, as brumas se fizeram com que Avalon se afastasse de Glastonbury...

Ambas ocupavam o mesmo mundo.

Ou não?

De qualquer maneira, eu acredito em mundos paralelos. Mas como paralelos, estão todos interligados e unidos a um só.

Uma fruteira não tem maçãs, bananas e laranjas?

Não deixa de ser uma fruteira. :D

Beijão.

.

São said...

Vim ver de si!
Ciao!